quinta-feira, dezembro 18, 2008

O ausente

- O cara tá sumido. Já te falei.
- Mas o que ele disse?
- Uai, ele tá se fechando, disse que tá recuperando seu tempo.
- E não vai mais acompanhar a gente?
- Ah. Ele nunca foi desse mundo mesmo.
- A gente não tinha combinado de reencontrar o povo todo agora no fim do ano? Nos divertir, logo agora que ele está mais livre?
- Desanimei com ele. Tá paia. Desistiu da noiva, não quer viver a balada e tirou férias do trabalho. Simplesmente não entendo.
- Engraçado que ele me pediu botas emprestadas e meu velho bandolin.
- A Graça me disse que escreveu umas cartas estranhas pra ela. Mas de uma "sensibilidade acutizante".
- Haha. É como se eu enxergasse ela falando isso.
- E você?
- Eu? Vou ver o jogo do Galo. A única tristeza que vale a pena.
- Te acompanho, moço melancólico..

Enquanto isso, o ausente tecia o fim das coisas, ao desconstruir o entendimento. Feliz, por estar só.

sábado, dezembro 13, 2008

memória nua

Hoje, como se fizesse um repente, cheio de rimas e sotaques, saudei mais um vez as coisas que já foram. E como um sertanejo, lembrando do luar antigo, esforcei-me pra não sucumbir nas novas empreitadas, sabendo que serão o início de outras lembranças. Talvez este saudosismo seja prova de amor à vida, e que os outros que minimizam as vivências junto a mim estejam esperando algo sempre, desdenhando do nosso passado, eternamente insatisfeitos. Os passáros estão presentes em qualquer escrita que tente adornar-se com a natureza, mas eles, aqui, só entoam o meu caminhar em um ambiente atemporal. E dessa vez o pensamento não está vinculado aos objetos que guardo, mas sim à saudade despida; no meio do sertão, de tudo que está em mim.
 
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