sexta-feira, agosto 29, 2008

sobre pijamas

pululam seres no jardim da frente
não quero estar lá.
você descarta teu sono pra me fazer santo;
enquanto te coloca ao acaso
graceja com teu pijama sentada na calçada
e rumino se eu posso.

cético e religioso
empreendo nova história
vou adornar-me sob teu cabelo para uma fotografia
- o mais eterno dos sentimentos.

espera mais
que será outro
enseja o meu estar
ao espaçar a sala
aceita o sol
que eu fico para o chá
e apreendo tua vida.

segunda-feira, agosto 18, 2008

avant la haine

Depois de cuspir um bocado de ódio, viu-se entre suas gavetas procurando algo que não lembra mais o quê. Aos poucos segurou um broche do PT, um ingresso destacado de Dans Paris, um textinho doce que escrevera e uma carta dela. Sentiu uma vontade de ouvir uma música em especial, que cantava tão desafinado, e que por isso mesmo deixava o som bem alto. Tantos pedaços de outro tempo! Uma fotografia com Elomar e um desenho de um amigo que nem mais conversava. Procurou na agenda do telefone o número dela. Se encontrasse, ligaria. Talvez um dia ela sentira a mesma nostalgia, mas nem quando ele ligou, nem quando ela pensou em ligar, sentiram a mesma coisa ao mesmo tempo.

segunda-feira, agosto 11, 2008

De uma arte expandida em realeza


De uma arte expandida em realeza


"Vai saber quantos corpos jazem sob o seu poder
Quantos beijos você quis distribuir
E eu que nunca sei se você pensa mesmo em ser atriz"


Era insustentável para ele ter que ficar de fora, na vitrine da exposição da substância tão particular do outro, sem poder tocar. Sentia que ambos permaneciam presos na existência de cada um. Quis morrer um dia para ter um espetáculo à parte, seu, e que os outros vissem se quisessem, mas que fosse tão raro, que nem ele mesmo poderia ir novamente ao seu encontro. Ela desde então aumentou seu zelo – pois para ela a morte dele seria exposição para sempre, o não poder tocar deixaria de ser uma angústia para tornar-se silêncio.

De uma arte expandida em realeza

O texto nos fala dele apoiando os pés na poltrona de sua frente e de suas mãos no amenizar de vez em quando o frio do ar condicionado. Os movimentos dos braços naquela dança pareciam chamar alguma coisa, caberia ali um sopro de clarineta, o som era imediatamente antes do movimento, pensou que assim se fosse instrumentista poderia conduzi-la naquele momento também. Essa coisa de ficar de fora! Como instrumentista não deixaria aquele doce piano, pois aquilo não o fazia sentir o doce, mas na dita insustentabilidade poderia arranhar com um arco de violino um acorde distorcido na guitarra, passaria para o palco sua angústia e ela sentiria sua substância. E se ele fosse um bailarino escondido na platéia pronto para subir ao palco? Anunciaria sua hora com a silhueta de um navio, viria cortando as ondas no seu jeito grande e desajeitado, e pisando descompassado o chão, guiado pelo magnetismo dos corpos, não seria direto, dançaria enfim sobre o comprimento de onda, tocando-a tão proximamente sem encostar a pele, mas sim palpando de leve o seu ser, num afago doce de piano, com os cheiros desenrolando-se para ele sentir de lá de sua poltrona.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Oração

"e eu posso inventar a missa
louvar o acaso e o absurdo
em noites que te chamei sem ouvir resposta
se todo mundo te cobra sempre um futuro
a lama e a glória são a mesma bosta"


"e eu posso celebrar a missa
num canto sujo desse mundo
em dias que te chamei sem ouvir resposta
se todo mundo te cobra sempre uma postura
os homens e os deuses são a mesma aposta"

"é pra você que eu vivo, Deus do Claro e Escuro
com um coração de rua
com as mãos imundas
mas sou teu
sem culpa"

Violins

Eu perdôo vocês. Mas sem misericórdia. Eu sei o que é carregar o fardo de ser bom. Posso continuar assim, mas de uma forma diferente. Não serei menor. Eu perdôo, mas não acredito em suas desculpas. E não vou sofrer a via crucis do corpo, nem dilacerar meu espírito. Serei bom, porque não sei como não ser. Estou num patamar elevado. Cabe a vocês construírem algo pelo meu carinho. Podem fazer o que quiserem comigo, eu perdôo, gosto dessa sinceridade, eu vou desfrutar apenas o pouco de amor que se esboça, e relacionar-me com essa vossa natureza selvagem, tão bem explícita em suas almas. Não acredito mais que exista alguém que possa desejar o que é bom. Por isso como sou bom, e faço o que desejam, serei impiedoso com vocês. Não vou dar-lhes meu amor tão fácil, entre sorrisos, sofás e poltronas de teatro. Meu coração está fibrosado. E se alguém construir o mesmo amor que possuo, a ponto de querer desfrutá-lo. Vou abraçá-lo, celebrando essa irmandade única, afrontando todo o resto. Amén.


"Problema meu se eu não sei morrer
Se eu não sei viver, se eu cansei de crer
Se eu não sei tocar sem cortar você

Problema meu
se eu só sei julgar
Se eu não perceber que eu errei o ar
E então respirei você sem saber parar

Em quem você acreditou pra me declarar tão bom
Que orgulho há em descobrir que não
Que alegria há em conhecer quem sou
Só pra depois contar que sempre desconfiou

Problema meu se você cansou,
e deitou com outros mais, nem se preocupou
Somos pais
Problema meu, eu quis ver o gol"
Violins

sábado, agosto 02, 2008

23/03/2005

Espolio o sentimento. Vai mais rápido, não precisa construir, eu preciso que você cumpra seu papel. Dá-me todo o substrato para eu fingir que amo alguma coisa, cumpra bem e pode construir. Eu sei que você é lento, cara, esquece isso de verdade, sentir não existe verdade, tudo é confuso, desfruta desse meu amor inventado, me dê carinho, porque se ficar atento a meus sinais saberá que é apenas comodidade, e se amar for pra ti um aprendizado, já terei perdido essa paixão quando você aprender.

 
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