quinta-feira, agosto 10, 2006

Uma temporada de flores

Vai, tira essa coisa quente de mim, vai! Sempre hesito em dizer não. Não resisto ao profano. Insinuara o que eu queria, talvez com pudor, implorando que conduzisse sua boca abaixo de meu umbigo. E o sol clareia sua face em lampejo constante. E ela vira-se, tudo pára, encara-me por alguns minutos e sorri sarcasticamente: “Quantos ácidos precisa tomar pra perder seu pudor? Se quiseres é só pedir. Fala pra eu chupar que eu chupo! Quero sentir-te, quero sugar-te para mim”. Olha bem, não peço indulgências, este pode ser o fogo sagrado de que tanto falam, mas depois de anos dispondo de três horas acordado antes de levantar da cama, vejo que o levantar mesmo nunca foi necessário, só a resolução das dúvidas, por isso eu saio para os trabalhos de campo. Pior de tudo é a fixação em saber o que se passa, entender estraga tudo, ela mesmo disse: “Não me perguntes se foi bom, se nós nos soltarmos, haverá sinergia, será perfeito sem explicação necessária.” Cds, guitarras, vodka com limão, vinho seco; tatuagem no início da vista para o horizonte de seu corpo... É nesse início onde o bom e velho entra e sai se concretiza fisicamente, querida devotchka! Pois o magnetismo dos corpos já era presente desde quando molhou os lábios com a saliva de vinho, estando eu às voltas, com meu olhar.

Não, eu não deixei que o prazer voltasse a níveis basais, é muito pouco, não acha? À tarde, já bem só como antes, num quarto paradoxalmente escuro, meus ouvidos pediram música, e o meu corpo, carícias. Permiti-me entrar num gozo egoísta que se prolongava por horas, ao desespero instrumental, sem voz, um post-rock, um orgasmo sônico. Viajar assim, sem pedir carona, é bem melhor, muito mais depois de uma sonolência inebriante e depois de todas as sensações, que antes apenas se comunicavam entre suas áreas no encéfalo, terem adquirido independência. Como diria não, se possuo agora uma autonomia de espírito? Pois é, meu Deus, perdoa-me por pecar contra a castidade, mesmo sendo esta a melhor maneira de encontrar-Te.
 
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - All Right Reserved ®.