quinta-feira, setembro 20, 2012

Chuva de Granizo


No rodopiar pole dance, na solidão de uma lazanha congelada e long neck, no estar longe dos que me exigem lá; o bom vento que promete virar granizo nas melhores cartomantes do clima promove um bem-estar-mal-estar que me põe a ruminar o que estarei enfim impelido a sentir. Porque não é  mais o automatismo do cotidiano que me faz esquecer-me hoje e sim um acaso de sentir que lembrou-me mais de mim em muito tempo. Hoje eu não olho para quem me ligou, quem eu tenho que avisar, quem se perdeu e quem eu devo culpa. As coisas estão lá e eu sou tão mau a ponto de estar abençoado.

quinta-feira, julho 05, 2012

Sem título



E quando a calma chega, pergunto se perdi alguma coisa, se não era pra decidir alguma coisa naquele momento de angústia, se não era a grande oportunidade. Volto a infringir-me o mal para dar mais tempo para alguma mobilidade, mas volto a parar, apegando-me a qualquer mísera alegria.

sexta-feira, junho 17, 2011

Mixtape

O dedo não balança nessa disco dança anos 80 no couro frio do teu sofá, just like honey; na madrugada cocaine socialism, esquenta teu seio na camisa pulante até dormir astral weeks, a gente já se levantou e deitou demais hoje, mas essa sala te resume junto com teu mac, teu vinil, teu lábio colorido, haircut, meu comportamento inimputável, em que posso ser grosso, posso ser breve - a música é o que vale e a playlist infinita mostra que eu já vou embora. É solidão demais nesses nossos tempos, mas você parou para me escutar, eu parei pra ouvir música o dia amanhecer, não esfriar e seguir você na sua eu na minha. A batida, a bebiba aproxima a gente e onda vai, passa, eu não consigo pegar, só ir, noutro dia ouvir aquela fita e lembrar apenas que foi bom.

domingo, fevereiro 27, 2011

Peito cheio

Quebrado e ensanguentado. Nem aparece ninguém. Chuto bem você. E que merda! Você não vai embora. Minha violência é o que tem de melhor no meu corpo. Sei do tesão que você tem nisso. E quando abraça meu peito tatuado, por um momento até apazigua esse ódio. "Tenho inveja da sua força." Mas quando estou calmo, sou indefeso, fraco e insensível. Não demora muito pra eu voltar a odiar. E eu não sei o quê, e eu não sei o que falta, e não entendo porque todos dizem que eu estou errado. Não consigo ficar sem sentir nada. Espero você lá em casa de novo.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Anywhere I Lay My Head

Tom Waits sabe bem o que se passa e onde ficam os desertos. Eu vejo a memória num gramofone, uma câmera no sapato. A garganta cheia de fumaça, mofo, rancor e cansaço. Lareira dentro do peito de duas pessoas. Um palpite. Um conceito. Meus dizeres dentro da minha cabeça. Um dia e meio. Uma volta na praça.
cara, dá um tempo. não sei se é drama ou coca-cola, ou o gim, mas queima. tenho novas faixas de não atravesse. não, espere, temos o jogo. é minha vez, dobro a aposta. eu sei que ganho. tudo isso é muito simples para o riso, não se erice. nunca fui naturalmente competitivo, nem nascido para o show. mas é você é quem chama. e eu estou esperando.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Postcards from Sao Paulo

A passos fortes, em longas avenidas, em espaços cheios, guardo meu espírito em baixo de uma sombrancelha, apertado em suas pontes com os outros, que me apertam para dentro deste corpo que avança. A minha voracidade agora é serena. O entender de mim mesmo está na fala calma e empatizante de outro ser, que fala de suas coisas flertando com as minhas. O inóspito e impossível não arrancam protestos. Estou e sou neste lugar.

segunda-feira, novembro 22, 2010

Hoppípolla

Não bastaria que perdesse seus pertences. O seu caminho pulsa, convulsiona, e por ser assim só para para ter certeza. O sol lhe confunde a vista. Eu me emociono. Lembro quando seguia um ímã. Lembro quando começava um texto sabendo o porque. As coisas seguindo em frente parecem comovê-los. Seguindo meu arquétipo. Era o nosso tempo quando ainda nos preparávamos e nunca perdíamos. O sentido das coisas ainda se formaria. E a escolha podia ficar pra depois. O tempo agora comendo a gente. E do alto, nem consigo ler, nem consigo formar uma gota aquosa ausente de realidade. Uma paixão de uma temporada reduzida a um sentimento comum. O prazer de um almoço no lugar da espera. Eu visito as pessoas. Não construo; devíamos nos ver para testar se aquilo acontece de novo. E pegar as mochilas e ir embora. E ficar mais duros depois de um novo fracasso. Hoje eu não engulo. Dói e me levanto. Não sei em que isso vai me transformar.

22/11/2010 - 07/02/2010

quarta-feira, maio 26, 2010

21 Dias, monno

"Prefiro você a ficar em paz". " Se seu excesso, se toda a sua urgência, nunca é demais." É na fantasia que o homem cotidiano, tributável, que o Pessoa com outro nome repugnou, sobrevive. Por isso nas obrigações, faltas, sabemos que precisamos dessa dose de exagero, por isso cremos na arte, pois por mais simples que seja, ela representa nossa fantasia embelezada, pulsando na nossa frente, em nossos sentidos. E quando tudo isso acaba, resta a paz. A maldita paz que já falei aqui citando a Mrs. Dalloway. Quando eu escutei essa música ao vivo no último sábado, eu esqueci de minhas análises técnicas, ao ouvir a palavra mágica: excesso. O excesso está aqui dentro e ele explode tão escondido e comedido que se evidencia num vexame. Pois eu não coloco carisma nele, eu não faço declaração de minha empolgação com as pessoas. Ainda estou demorando escrever aquela grande carta aos meus amigos. Ainda não falei que gosto dos excessos e dores que algumas pessoas me impelem. E me vem uma personagem que também não consegue ter esse excesso comigo e nos vejo explodindo por dentro. Mesmo que a explosão só esteja em mim. E isso não é só uma frase feita na música. "Ao partir, esqueça algum sinal de que irá voltar." Porque não queremos ficar a sós com a paz. A gente quer ficar desequilibrado, para depois ter ressaca. Eu não acredito em rotina, apenas em ressaca. E me recupero por uns dias, certo de que o caos irá voltar.

aqui...
http://www.youtube.com/watch?v=xezNwE5Az7Y

sexta-feira, maio 07, 2010

O espectro ululante

Nos ventos frios que faziam enquanto eu dormia, pude ter tato naquela imagem embaçada do sonho. Era uma cidade grande, havia deixado o carro que não consegui dirigir abandonado numa esquina vazia de uma avenida de 10 pistas. Subi, procurando onde eu deveria ir. Descobri sua casa, era um apartamento, mas tinha uma espécie de passagem secreta para onde eu estava. Conversamos e sua mãe, com uma voz estrangeira, perguntou se aquele era eu, vocês conversaram como se eu não estivesse ali, ela afirmou que não seria interessante estar comigo, porque você não gostava de mim e eu poderia lhe causar mal, talvez as deixassem confusas, sugeriu que me convidasse a entrar pela porta principal, para discutir umas questões, que a estavam incomodando nas noites mal-dormidas e nas leituras de alguns filósofos. Ela saiu. Você repetiu o que ela disse, chegou perto de mim com seus lábios de negra e seu rosto branco. Suspirou um ar quente, abraçou-me e não me beijou. Quase acordei. Estranhamente continuei do lado de fora, dentro daquela metrópole abandonada. Fechei os olhos, desci do elevador e sentei numa das cadeiras da sala. A sua mãe estrangeira falava sobre como se sente ao ler um texto da Llansol. Você olhava para baixo como se lamentasse. Ela balbuciou murmúrios. Estranhamente desapareceu. Você olhou para mim e disse que ainda estava apaixonada, mas precisava que eu aparecesse de vez em quando. Eu não era o outro. Mas sendo eu, lhe causava certa vivência quando se escorava em algum código desconhecido que alguém lhe dizia num aparente lugar-comum. Cada sorriso amarelo seu e cada toque em sua escrivaninha parecia me tocar na garganta. Eu não me fazia frequente em sua vida. O nosso tempo corria paralelo. E a gente não vivia apenas nos nossos intervalos. Vivíamos agora no meu sonho. Seguraria a saudade. Deixaria as gotas de encontro um pouco de lado. Esperaria um outro tipo de eternidade. Talvez na memória.

sexta-feira, março 19, 2010

sketches from a scene

Seguro de vida para você ir lá, topa? Outro intestino? Te dou uma faca de brinde. Muito sangue? Sim, acredita? Ela está lá. Ela sabe. Ainda se agacha daquele jeito, digo, com aquela barriga inflada ao sentar e em pé emagrecida. Parece um bumerangue. O sol preto e branco e o sangue no rosto dela, vermelho, legal né? Ô, imagem bonita, vamo colocar um cigarro no meio, ela bem triste, reflexiva ouvindo o Guided by Voices. Scene from ester's day/of running backward courses/with a horse of different forces/lying wings of films/that seem to never see the screen/couldn't bear to face their dreams. Não acredito que ela pode parecer triste. Não não, que tal uma roda-gigante, um lápis preto e algodão doce? Sinto que o baixo eu deveria tocar, estaria no filme também. E se ela matar um sujeito que aparecer no parque? Como assim? Um sujeito gordo e feio, que significasse o sonho dela terminado. Nossa cara, você viajou, massa. Ela dançaria num salão bizarro, com luzes tipo oncinha, onde tocasse tecnobrega e servisse conhaque de pequi. Medo! Tinha que ter mais sangue. Mas eu te falei pra ir lá. Hum.. Gosto do meu intestino. Esqueceu que a assassina é linda? É, e quando é que eu entro?

http://www.youtube.com/watch?v=nB91xOkn3b4&feature=related

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Fumaça

Todo o meu crescimento só me faz exigir. Descarto tanta coisa. Desejo de súbito e ao mesmo tempo quero perder o contato. Guardo ilusões no pó das cortinas do meu quarto. Amanhã serão lavadas e sinto-me triste porque não terei o nariz tamponado. Hígido. Tanta coisa pulsada, tanto sentir inflado, para depois ser hígido, como alguém comum, longe das coisas que eu vivo lá dentro. Vigorosamente carrego a aba de teu caixão. As pás de terra batem no peito. Mato outra construção onírica e sonho sobre traços fibróticos. Necróticos. Articulo minhas peças. Garimpo túmulos e descarto a criogenia. Espero dar à luz e o vulto passar, e depois esquecer. Refaço-me na chegada e quase não dou conta de ser. Assim, contentai-vos com a superfície.

terça-feira, janeiro 26, 2010

r.e.m.

Movo em ti. Garças tiram-na para aquilo que deveras sentes. Fogem do horizonte no vôo, seguem teu ônibus mágico. Preço promocional. Especulo na carne crua mais vida do que existe. Te amo como a faca do açougueiro. Oferecerás o amor de verme. Não saberei sê-lo. A ficção morre no sono, despede-se no sonho, vinga-se no desfalecer. Durmo mais do que existo. Até que tua imagem durma. Não exista. Seremos outros e não seremos nada. Era uma outra? Abandonou o que és, para sentir mais do que és, além. Sou um personagem inócuo. Não me enxergarás. Escuta-me, talvez, se colocar teus ouvidos próximos. Se tu tiveres dormido, imagem, perdoa-me se serão só sussurros.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

nome-do-pai

Eu sei onde está minha falta e sei quando não falto a alguém. Por isso, acabo sendo faltoso às vezes, e deixo você buscar o que não tem e até, de vez em quando, eu.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Os fios

Permanecia protegida numa redoma. Andando em frente por um único pensamento. A obsessão de sentir aquilo cada vez mais fundo. Sentir-se uma só, perdendo os múltiplos nuances que habitavam em seu ser, que a deixavam às vezes perdida. O desejo dela por ele tornou-se uma religião. Olhar para dentro de si era seletivo, enxergando apenas o que reverberava daquele sentimento. Não conseguiu mais estar plena com outras coisas que a intrigavam. Tornava-se cada vez mais uma pessoa mais fácil de definir. Por isso, ficou em paz, com um espírito involuído e feliz. Cresceu naquilo que era, conquistou o que programou e um dia qualquer abandonou ele porque as suas outras partes interiores reclamaram para si o direito de também sê-la. Queria visitar o seu labirinto interior. Precisava matar o minotauro. Um dia de luz, arranjou um novelo de linha infinito. Aprendeu vários caminhos de ida e volta. Percorreu-os, ficando longos períodos fora e dentro do labirinto, até o dia de sua morte.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Colagem

Eu, moreno preto quase branco, sou de São Paulo, lugar em que há brancos paulistas e pretos nordestinos e alguns quase paulistas quase pretos. Sinto Recife. Mudo para outro lugar do sudeste. Minas? Grudo no suor de uma batida maracatu. O Chico Science me faz sentir brasileiro. Comunico-me com você, após o fino. Eu sinto. Nossa, cara, eu sinto! Minha leveza faz você sentir-se muito melhor do que papos sobre nouvelle vague e Bergman. Aproprio muito melhor desse sangue quente que faz rir, do que o sangue gelado, que tenta fazer você querer se esquentar. Comigo não é só desejo não. Não preciso  mostrar o que tem dentro de mim. Te envolvo. E o engraçado é que no fundo garotas assim preferem o gelado, mas como cult brasileiro, simplifico as coisas. Sente a batida, não preciso de peso para ser intenso. Não suportaria a seriedade de um europeu. Na nossa festa, adorou esquecer aquele cara que cantava Radiohead para dançar comigo, peito forte, suor perfumado, um uh uh que beleza, ao dizer no ouvido, cravando os dentes no meu alargador, que por causa de você bate em meu peito baixinho calado coração apaixonado por você. Depois disso quase comprou o livro Universo em Desencanto, viveu as viagens da paz interior, dos seres de luz, e ignorou os amigos que insistiam que era recalque não ler mais as reflexões cortantes de um Herman Hesse. Tá bom, deixa o Tom Morello fazer funkar aquela guitarra. Deixo pedir Light my fire. O ruim é quando vem a ressaca. Você pensa, enjoa do meu corpo, pede um fino, coloca os óculos, lê cartas, busca algo aí dentro não sei o quê, some uns dias, busca o gelado, toma um café com licor, intriga o seu outro camarada e volta pra mim, porque prefere nosso caminho Marajó.

terça-feira, dezembro 08, 2009

Esperando Mrs. Dalloway

Quando voltarei a sofrer para sair dessa mediocridade? Apareça nem que for por sadismo psicológico, preciso de tensão. Vamos assistir a Vertigo, porque eu quero que o Hitchcock me ensine de novo a ter medo de alturas. Os medos corriqueiros já não têm graça. Desde que a maturidade minou a solidão, perdi o meu divertimento. Nada como uma ilusão vislumbrada. Nada como um fantasma presente. O real não foi criado por mim, mesmo que o aceite para passar os dias em amenidades, só assim sendo possível cumprir as renúncias. Minha garganta está extremamente descansada. Minha mente está muito clara. Eu sou bom. Bom como Abel. Cadê meus dias de Caim? Cadê a invenção do caos? Tive alta do psicanalista. Mas descobri que isso é estranho. Agora estou normal? Será que eu aprendi a viver bem com o insuportável? Venha liquidificar minha cabeça. Para que jorre em seiva bruta. Venha transvertido de Satanás. Ó lindo nome! O diabo deve gostar do português, ao nominar-se tão sagazmente na nossa língua. Venha, cara amiga. Amigo, de qualquer sexo. Venha...

Quando só, encontrava tantas pessoas maiores, agora as vejo escassas. Quando mais jovem, bebíamos muito veneno, hoje o único veneno que bebo é real, faz mal. E não tem ninguém mais a oferecer aquele outro veneno. Minha vida está toda planejada, ela vai dar certo. Mas certo como? Certo porque será de paz. Ainda sou bastante jovem para encontrar a paz. Não quero paz agora porra nenhuma. Quero-a quando estiver velho e saber das coisas. Eu ainda não sei. Encontrei algumas pessoas por aí, porém elas desistiram. Como eu sou bom agora, e é foda, não tive coragem de corrompê-las, não sei se ficariam empolgadas. Apenas tomamos umas cervejas comemorando o meu time na Libertadores. E se você não vier, caro amigo, o sofrimento que eu terei não será o redentor, mas o de uma derrota num jogo, que o objetivo é ganhar. Quero que me traga a maravilhosa dor de saber das coisas e o gozo de saber pervertê-las, destruí-las e construir nossa própria vontade, viver o nosso prazer original. Te espero.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Sem sol

As viagens que se submeteram da costa leste ao interior daquele continente traziam efeitos diferentes para os dois. O primeiro desbravava cada lugar e era abraçado pelas paisagens, aninhado naquilo que o fazia querer repetir a experiência com várias pessoas diferentes, e até mesmo só. O outro percebia o tempo e as terras percorridas nas imagens do interior de si, associadas à memória de coisas que não conhecia. Depois, na chegada, viu-se em múltiplas representações, porém não identificava os lugares nas fotos. O primeiro, ao contrário, precisava sempre das imagens para lembrar do que havia representado.

sexta-feira, outubro 30, 2009

De onde está



Com passos em silêncio de chuva-verão-tempestade-sônica, dançamos num salão bem protegido do frio provisório; ninguém me lembra do que eu sou, estamos fora de contexto, estamos numa ilha de frio, uma ilha de tempo, aproveitamos com nossos corpos, antes que nosso calor seja menor do que aquele que ainda não vem de fora. Tomamos café, porque não é tempo de cerveja, apenas uma xícara, porque quando vier a próxima já não combinará com o tempo, e somos amigos, senão minha presença não seria um acaso pretendido. Isso não contradiz os nossos corpos estarem eriçados, com nossos pêlos como último alcance dessa energia. E isso não contradiz eu te pegar com meus músculos hipotróficos enrijecidos. Busco tua saliva, antes que eu tenha apenas teu suor. Mas é de tempo, e por ser de tempo a gente não pára. São 19 e 30. No verão. Vou falar dessa vez pra você saber. E não fale, que não é de perder. Ah, não! Eu quero o salão, a percussão volta a trazer teu corpo e teu coração batendo e o bandolim no repassar de nossos cabelos. Sax? Não, tenho todos os metais, quase surdo, para que termine o som, e assim nossa canção.

Os tempos são difíceis, amparo no factóide, cumpro horários, talho o elixir da vida, estou ao lado daqueles que mórbidos necessitam de um pouco da vida que apalpamos em nossos poucos encontros e daquela que apalpamos em outros lugares em que nosso relato fica guardado para nunca ser dito inteiramente.

Augusto, 79 anos de idade, faleceu. Ouvi o choro de seus próximos. Era bastante grave, mas para os parentes e amigos a sua morte é uma surpresa. É quase uma festa do fim, penso sobre o que viveu, era um tipo bastante comedido e imagino que era uma espécime de artesão rotineiro. Alguém que era de esperança e de acordar cedo. "Os exagerados morrem jovens", alguém diz. A metáfora de uma vida comparada a uma garrafa seria injusta com aqueles que a bebem muito. Quando será a próxima vez? Porque depois de tentar reanimar um morto, quero um corpo com vida para bebermos exageradamente. Não há resposta. Subo a rua à pé e anêmico, pronto para beber sangue. Tinto. Amarro-me no silêncio, não quero ninguém, duvido da dança, a memória daquela ilha perde provisoriamente o sentido, abdico, escolho não escolhendo, prefiro não querendo, concorre a tua vida e a minha, e eu estou feliz por esta existência.

http://www.youtube.com/watch?v=CYfKrct68JU
http://www.youtube.com/watch?v=ytudwqKuc4s
http://www.youtube.com/watch?v=N-mqhkuOF7s&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=jc3ZAs17uAg&feature=related

sexta-feira, setembro 25, 2009

Prenda



Guardo meu sexo como uma pré-pubere. Guardo-o como um libidinoso menino santo. Preservo o olhar de outrora. Mastigado coração. Grato à suspeição de que a alegria exterior toda já foi me dada. Precisaria enxergar-te, luz? És exigida, memória? Guardo-me para escavar essa alegria só interior. No texto apareceu adornos, a alegria de fora coloriu-se, mas quero o básico, quero o de dentro. A experiência é só ausência. Nada está aqui. Não há sorriso, a data não existe, cartas, sons, anos; a memória evocada é um truque barato de falsa felicidade, não é como eu no vigor presente, com que não existe e crio. A pé, aprendo estar em mim em todos os lugares, desconstruindo o espaço, redescobrindo um só nome. Nu e universo.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Pedido de desculpas


"e de repente eu pensei que puta morte bela se eu morrer,
pra defender os bens que comprei, a prazo e à prestação"
Violins


Eu te matei não foi porque eu dava muito valor àquele objeto que me roubou, ele é só um brinquedinho para me entreter na mediocridade da minha vida. Te matei porque os tostões que ele vale são aqueles que ganho para aceitar esse sonho padrão e abdicar dos meus, tão peculiares e não rentáveis. Você desconhece o ódio que senti quando descobri isso. Os meus pertences medem meu sonho?! Não tinha o direito de me revelar. Não sou mesquinho, te matei pela minha vida, está vendo? Não foi pela merda de um Laptop. Serei absolvido, pois o estado me incumbiu de ser um cidadão respeitado, o que você não aceitou. Amanhã volto pra casa, pois tenho contas a prestar, não comigo, mas com meus clientes. E faça o favor de descansar em paz.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Ciranda

Agora você pega essas duas pontas e as desfaça mais e mais. Não dê ouvidos ao borburinho que se instala. Suba até o alto e não analise depois o que significou, garanto, é melhor não. Pense mais sobre crisântemos, tão sóbrios, que eu ébrio, chego e piso. A velha vontade de explicar a insatisfação, porque o muito sempre me mostra que é pouco, porque o que é incompleto eu não consigo medir o seu tamanho, nunca me enchendo. Graças à ... Viro e te digo que todo neo-hippie precisa de uma depressão, não suporto esses seres de luz, a minha treva é tão clara, essa luz deles é uma paz de irritante estado contínuo de espírito. Tá bom, eu tento. E se eu conseguir?E se eu seguir o doce e claro plano de vida? E se eu só repetir maravilhosos trechos de grandes vivências? E se eu trocar minha grande vontade desse minuto por a pequena vontade do todo dia? Olha que plaino, como o vôo do urubu, e você vai adorar me ver lá em cima, e lembrar que quando era criança te prescrevi um remédio amargo. E agora como velho rude, apenas me diga:
- Amigo, as injeções!

quinta-feira, junho 11, 2009

Love Shop

Eu não te quero porque meus dedos longos não prendem tua personalidade escorregadia. Eu não te quero porque meus planos e meus sonhos não te cabem. Mas.. Eu quero.. Eu.. Não! A voracidade de meu abraço é só sex appeal. E se acaso eu te deixasse visitar-me por dentro, nossa troca seria inversa, e não seria eu quem te ofereceria meu corpo e não seria tu quem me ofereceria tua alma. Quero-te só nesse pouco que te encontro, porque mais seria ironicamente superficial. Como nos livros em que o leitor é quem engrandece a história, ao fantasiar vivências através de palavras fortes. Dá-me tua palavra e eu insinuarei meu corpo. Quero falar-te só para confundi-lo. Pensas que quero uma aventura. Não. Quero mais. Pode ser fraqueza permitir carícias. Mas, que nada! És meu congênere, e assim, és um exemplar do sexo oposto que deixa nossos cantos conformes. E és bastante razoável, cara. Enquanto estás cansado, estou totalmente disposta. És socialista, enquanto eu te consumo até teu pneu ficar careca e eu conseguir um novo financiamento.

domingo, maio 10, 2009

Rasurado



O berço torto repousa a lamúria que sofreu em ouvir. Uma moeda. Talvez de cinquenta centavos. Não temos nada com isso. Ou somos. Gosto do respirar por entre os lábios, de muita carne, com os dentes cerrados, pronto pra não falar: "Fique!", ou "Adeus!". Sem decisões. É parte de seu corpo, cheio de força que alonga-se nos seus pés e mãos, e me invade, sem você saber, porque também não sabe disso que tem em você, que mesmo doando pequenas amostras em conta-gotas não impede que me fulmine com essa energia, como se minha boca fosse de um balão, enchido de volta à Montes Claros, como se aqui fosse o lugar, a fonte que me mantém a você. Vezenquando seria leve, porque é grave o contato, e segundo quem o peso seria melhor? Parmênides? Não. Você pega a moeda de cinquenta centavos. Doa. Ele não conseguiria nada, eu também não. Há uma porta fechada, e o porteiro não é meu amigo.

quarta-feira, abril 29, 2009

Cartas à Pirapora

D.,
Seria fácil prender-se e proteger-se, mas seria uma vida superficial. Todos os momentos são os que constroem o tempo.

Essas 24 horas podem ser vistas como algo em vão, você pode lembrá-las como "bobeiras", porém toda experiência é válida. Eu me movo pelo ar, o vento é quem me propulsa para as minhas loucuras, não sei o que vim fazer aqui, pois meu coração não responde, só pulsa.

Mas sei que esta é minha vida, que seria muito melhor sempre perto de você..

Exercite o que quer ser!

''Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar''

PS. Talvez eu volte se até 19 h eu nao conseguir carona, me espere pelo menos uns quinze minutos!

Boas sorte e beijos!

Flavio Benigno 26;06;2005

terça-feira, janeiro 27, 2009

O herói

My blueberry nigths

Passo tarde a passos largos. Lá está ela escorando até se recompor. Ofereço apenas o que já foi negado. Humilho qualquer pequena coisa, a tecer megalomania. Divertindo-me sem querer com insetos esmagados, desejando falsamente animais de grande porte. Como se suprisse a angústia até que se saciasse, mesmo ela sendo pra sempre faminta. Um dia eu quis ser grande, ao lado de coisas grandes, mas o que é grande mesmo sempre teve dimensões que couberam em 1,77 m de altura. Meu significado é particular, só o signo é visto. Desconstruo seus ímpetos, para quando eu poder me humilhar ela sentir-se realmente forte. Termino a minha sina de querência, ao devolver-te pronta para nova vida. Precisando eu dar novo sangue a novo ser, nunca me desfrutando dele quando o coração estiver batendo, numa longínqua espera. Aparentando descrédito, forte pelo doar, edificante pelas verdades que disparo, enfadonho pela sinceridade, apaixonante pelo aparente desdém e por fim descartável ao revelar-me satisfeito. Por isso que cresço, por isso que morro e rejuveneço, ao socar meu estômago a fim de descobrir que preciso sempre de fôlego e agradecer que agora estou insatisfeito, buscando mais uma vez não sei o quê, angustiado enquanto, antes de ser desfeito novamente, nasce outro herói.
 
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