Quando voltarei a sofrer para sair dessa mediocridade? Apareça nem que for por sadismo psicológico, preciso de tensão. Vamos assistir a Vertigo, porque eu quero que o Hitchcock me ensine de novo a ter medo de alturas. Os medos corriqueiros já não têm graça. Desde que a maturidade minou a solidão, perdi o meu divertimento. Nada como uma ilusão vislumbrada. Nada como um fantasma presente. O real não foi criado por mim, mesmo que o aceite para passar os dias em amenidades, só assim sendo possível cumprir as renúncias. Minha garganta está extremamente descansada. Minha mente está muito clara. Eu sou bom. Bom como Abel. Cadê meus dias de Caim? Cadê a invenção do caos? Tive alta do psicanalista. Mas descobri que isso é estranho. Agora estou normal? Será que eu aprendi a viver bem com o insuportável? Venha liquidificar minha cabeça. Para que jorre em seiva bruta. Venha transvertido de Satanás. Ó lindo nome! O diabo deve gostar do português, ao nominar-se tão sagazmente na nossa língua. Venha, cara amiga. Amigo, de qualquer sexo. Venha...
Quando só, encontrava tantas pessoas maiores, agora as vejo escassas. Quando mais jovem, bebíamos muito veneno, hoje o único veneno que bebo é real, faz mal. E não tem ninguém mais a oferecer aquele outro veneno. Minha vida está toda planejada, ela vai dar certo. Mas certo como? Certo porque será de paz. Ainda sou bastante jovem para encontrar a paz. Não quero paz agora porra nenhuma. Quero-a quando estiver velho e saber das coisas. Eu ainda não sei. Encontrei algumas pessoas por aí, porém elas desistiram. Como eu sou bom agora, e é foda, não tive coragem de corrompê-las, não sei se ficariam empolgadas. Apenas tomamos umas cervejas comemorando o meu time na Libertadores. E se você não vier, caro amigo, o sofrimento que eu terei não será o redentor, mas o de uma derrota num jogo, que o objetivo é ganhar. Quero que me traga a maravilhosa dor de saber das coisas e o gozo de saber pervertê-las, destruí-las e construir nossa própria vontade, viver o nosso prazer original. Te espero.
Quando só, encontrava tantas pessoas maiores, agora as vejo escassas. Quando mais jovem, bebíamos muito veneno, hoje o único veneno que bebo é real, faz mal. E não tem ninguém mais a oferecer aquele outro veneno. Minha vida está toda planejada, ela vai dar certo. Mas certo como? Certo porque será de paz. Ainda sou bastante jovem para encontrar a paz. Não quero paz agora porra nenhuma. Quero-a quando estiver velho e saber das coisas. Eu ainda não sei. Encontrei algumas pessoas por aí, porém elas desistiram. Como eu sou bom agora, e é foda, não tive coragem de corrompê-las, não sei se ficariam empolgadas. Apenas tomamos umas cervejas comemorando o meu time na Libertadores. E se você não vier, caro amigo, o sofrimento que eu terei não será o redentor, mas o de uma derrota num jogo, que o objetivo é ganhar. Quero que me traga a maravilhosa dor de saber das coisas e o gozo de saber pervertê-las, destruí-las e construir nossa própria vontade, viver o nosso prazer original. Te espero.