sexta-feira, maio 07, 2010

O espectro ululante

Nos ventos frios que faziam enquanto eu dormia, pude ter tato naquela imagem embaçada do sonho. Era uma cidade grande, havia deixado o carro que não consegui dirigir abandonado numa esquina vazia de uma avenida de 10 pistas. Subi, procurando onde eu deveria ir. Descobri sua casa, era um apartamento, mas tinha uma espécie de passagem secreta para onde eu estava. Conversamos e sua mãe, com uma voz estrangeira, perguntou se aquele era eu, vocês conversaram como se eu não estivesse ali, ela afirmou que não seria interessante estar comigo, porque você não gostava de mim e eu poderia lhe causar mal, talvez as deixassem confusas, sugeriu que me convidasse a entrar pela porta principal, para discutir umas questões, que a estavam incomodando nas noites mal-dormidas e nas leituras de alguns filósofos. Ela saiu. Você repetiu o que ela disse, chegou perto de mim com seus lábios de negra e seu rosto branco. Suspirou um ar quente, abraçou-me e não me beijou. Quase acordei. Estranhamente continuei do lado de fora, dentro daquela metrópole abandonada. Fechei os olhos, desci do elevador e sentei numa das cadeiras da sala. A sua mãe estrangeira falava sobre como se sente ao ler um texto da Llansol. Você olhava para baixo como se lamentasse. Ela balbuciou murmúrios. Estranhamente desapareceu. Você olhou para mim e disse que ainda estava apaixonada, mas precisava que eu aparecesse de vez em quando. Eu não era o outro. Mas sendo eu, lhe causava certa vivência quando se escorava em algum código desconhecido que alguém lhe dizia num aparente lugar-comum. Cada sorriso amarelo seu e cada toque em sua escrivaninha parecia me tocar na garganta. Eu não me fazia frequente em sua vida. O nosso tempo corria paralelo. E a gente não vivia apenas nos nossos intervalos. Vivíamos agora no meu sonho. Seguraria a saudade. Deixaria as gotas de encontro um pouco de lado. Esperaria um outro tipo de eternidade. Talvez na memória.

2 comentários:

Flavio disse...

Ultimamente venho guardando os textos que mais gosto, para expô-los apenas se publicados. Porém, alguns textos precisam de leitores...

Hannah. disse...

sempre fico na dúvida se a palavra é ultimamente ou utilmamente. engraçado, se fosse utilmamente, teria um sentido que eu gostasse mais. haha la camera-stylo. fico me perguntando coméqueé se a gente tem tanto que se libertar da tirania das palavras e agradeço a essas suas imagens.

 
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