Eu, moreno preto quase branco, sou de São Paulo, lugar em que há brancos paulistas e pretos nordestinos e alguns quase paulistas quase pretos. Sinto Recife. Mudo para outro lugar do sudeste. Minas? Grudo no suor de uma batida maracatu. O Chico Science me faz sentir brasileiro. Comunico-me com você, após o fino. Eu sinto. Nossa, cara, eu sinto! Minha leveza faz você sentir-se muito melhor do que papos sobre nouvelle vague e Bergman. Aproprio muito melhor desse sangue quente que faz rir, do que o sangue gelado, que tenta fazer você querer se esquentar. Comigo não é só desejo não. Não preciso mostrar o que tem dentro de mim. Te envolvo. E o engraçado é que no fundo garotas assim preferem o gelado, mas como cult brasileiro, simplifico as coisas. Sente a batida, não preciso de peso para ser intenso. Não suportaria a seriedade de um europeu. Na nossa festa, adorou esquecer aquele cara que cantava Radiohead para dançar comigo, peito forte, suor perfumado, um uh uh que beleza, ao dizer no ouvido, cravando os dentes no meu alargador, que por causa de você bate em meu peito baixinho calado coração apaixonado por você. Depois disso quase comprou o livro Universo em Desencanto, viveu as viagens da paz interior, dos seres de luz, e ignorou os amigos que insistiam que era recalque não ler mais as reflexões cortantes de um Herman Hesse. Tá bom, deixa o Tom Morello fazer funkar aquela guitarra. Deixo pedir Light my fire. O ruim é quando vem a ressaca. Você pensa, enjoa do meu corpo, pede um fino, coloca os óculos, lê cartas, busca algo aí dentro não sei o quê, some uns dias, busca o gelado, toma um café com licor, intriga o seu outro camarada e volta pra mim, porque prefere nosso caminho Marajó.